"Hoje eu serei eu mesma."
Sendo
que tudo o que já fui não mais serei
e o que virá a acontecer eu nem mesma sei.
Não sou agora nem o passado nem o futuro,
então o que é dessa ilusão do
presente que me prende num corpo com a falsa pretenção que lhe pertenço, como
um ser limitado e militante?
O curso de uma vida ou só esse momento,
quantos
eus existe em meu corpo animal,
onde fica a linha que separa meu ser - de tudo
mais - que também é?
para
viver a espera só tenho as palavras
"Onde eu exatamente me encontro?
O que me surpreende é a impressão de
não ter envelhecido, embora eu esteja instalada na velhice.
O tempo é irrealizável.
Provisoriamente o tempo parou para mim.
Provisoriamente.
Mas eu não ignoro as ameaças que o
futuro encerra, como também não ignoro que é o meu passado que define a minha
abertura para o futuro.
O meu passado é a referência que me
projeta e que eu devo ultrapassar.
Portanto, ao meu passado, eu devo o meu
saber e a minha ignorância, as minha necessidades, as minhas relações, a minha
cultura e o meu corpo.
Hoje, que espaço o meu passado deixa
para a minha liberdade hoje? Não sou escrava dele.
O que eu sempre quis foi comunicar
unicamente da maneira mais direta o sabor da minha vida. Unicamente o sabor da
minha vida.
Acredito que eu consegui fazê-lo.
Vivi num mundo de homens, guardando em
mim o melhor da minha feminilidade.
Não desejei e nem desejo nada mais do
que viver sem tempos mortos.” Simone de Beauvoir
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