terça-feira, 21 de junho de 2016

Dona Maria Flora - que não era dona de nada.

Ah, meu Imbuhy!
Não foi aqui que nasci, mas foi onde encontrei morada.
Meu Imbuhy, terra de peixes, que hoje se acaba numa estrada.
Aqui, eu bordei a minha vida. Inteira.
Entre filhos, irmãos, fios e feixes
Teci e ergui MINHA BANDEIRA!
Me chamam Dona Maria Flora Simas de Carvalho, mas não sou dona de nada, não. Sou serva.
Serva da horta, dos barcos e do borralho.

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A aldeia do Imbuhy ficava em Niterói-RJ, e foi o lugar onde D. Flora Simas de Carvalho (ou Dona Yayá), que bordou a primeira bandeira do Brasil a pedido de Marechal Deodoro da Fonseca, vivia. A bandeira que ela bordou serviu de base para a bandeira de seda que foi hasteada dia 19 de novembro de 1889.
A região onde ficava a aldeia do Imbuhy tem registros de nascimentos desde o fim do século XVIII, mas a aldeia teve origem oficialmente com a chegada da família Simas Carvalho em 1986. Era uma aldeia de pescadores, a penúltima praia oceânica antes da baía de Guanabara.
O pai de Dona Flora era um militar, engajado em lutas políticas, era abolicionista, contestador. Por este motivo foi muito perseguido, tendo que mudar-se constantemente, o que fez com que Flora nascesse em Recife. Por conta das perseguições, a família voltou ao Rio de Janeiro, mas a mãe de Flora não se adaptou e voltou ao Recife, onde morreu logo depois, ficando a cargo de Flora a criação dos cinco irmãos.
Com 16 anos ela bordou a primeira bandeira do Brasil e com 19 anos foi morar na aldeia do Imbuhy a mandado de seu pai, que queria com isso afastá-la de um português por quem estava apaixonada. Na aldeia conheceu Francisco, líder dos pescadores, com quem se casou e teve 7 filhos. Ao lado da aldeia foi construído o forte de Niterói, e a convivência dos moradores com os militares foi pacifica até a instauração da ditadura militar em 1964, quando começaram a impedir os pescadores de acessar as praias e de sair da aldeia para vender seus peixes, além de ocupar a escola e o hospital da aldeia para servir de alojamento. Depois disso, mesmo com o fim da ditadura a convivência entre aldeões e militares foi conturbada.
Os descendentes de Dona Flora compunham quase a metade da população da região em 2015, quando os moradores foram relocados e a aldeia foi destruída para a construção de uma estrada.

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