Ah, meu Imbuhy!
Não foi aqui que nasci, mas foi onde encontrei morada.
Meu Imbuhy, terra de peixes, que hoje se acaba numa estrada.
Aqui, eu bordei a minha vida. Inteira.
Entre filhos, irmãos, fios e feixes
Teci e ergui MINHA BANDEIRA!
Me chamam Dona Maria Flora Simas de Carvalho, mas não sou dona de nada, não. Sou serva.
Serva da horta, dos barcos e do borralho.
.*.*.*.
A aldeia do Imbuhy ficava em Niterói-RJ, e foi o lugar onde D. Flora Simas de Carvalho (ou Dona Yayá), que bordou a primeira bandeira do Brasil a pedido de Marechal Deodoro da Fonseca, vivia. A bandeira que ela bordou serviu de base para a bandeira de seda que foi hasteada dia 19 de novembro de 1889.
A região onde ficava a aldeia do Imbuhy tem registros de nascimentos desde o fim do século XVIII, mas a aldeia teve origem oficialmente com a chegada da família Simas Carvalho em 1986. Era uma aldeia de pescadores, a penúltima praia oceânica antes da baía de Guanabara.
O pai de Dona Flora era um militar, engajado em lutas políticas, era abolicionista, contestador. Por este motivo foi muito perseguido, tendo que mudar-se constantemente, o que fez com que Flora nascesse em Recife. Por conta das perseguições, a família voltou ao Rio de Janeiro, mas a mãe de Flora não se adaptou e voltou ao Recife, onde morreu logo depois, ficando a cargo de Flora a criação dos cinco irmãos.
Com 16 anos ela bordou a primeira bandeira do Brasil e com 19 anos foi morar na aldeia do Imbuhy a mandado de seu pai, que queria com isso afastá-la de um português por quem estava apaixonada. Na aldeia conheceu Francisco, líder dos pescadores, com quem se casou e teve 7 filhos. Ao lado da aldeia foi construído o forte de Niterói, e a convivência dos moradores com os militares foi pacifica até a instauração da ditadura militar em 1964, quando começaram a impedir os pescadores de acessar as praias e de sair da aldeia para vender seus peixes, além de ocupar a escola e o hospital da aldeia para servir de alojamento. Depois disso, mesmo com o fim da ditadura a convivência entre aldeões e militares foi conturbada.
Os descendentes de Dona Flora compunham quase a metade da população da região em 2015, quando os moradores foram relocados e a aldeia foi destruída para a construção de uma estrada.
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