terça-feira, 21 de junho de 2016

Um desdobramento da Maria da Fé, Guerreira

Hoje eu sinto o meu passado 
como um peso insustentável. 
Ele interfere na minha vida presente, 
e deve ser a causa 
desse fechamento de portas. Anais Nin


Rosana Paulino
                                                                                                                    Quem somos, de verdade?
            Sou filha da dor. Maria Oliveira, árvore da fé, da vida e da força. Sou fruto da resistência do amor perante um mar de violências. Já nasci assim, sendo força contrária. E segui na contramão. Vi muitas feridas abertas, outras sendo costuradas e algumas já cicatrizadas. Carrego em mim um tanto desse amor que me gerou e um tanto do ódio no qual nasci. E vivo nessa instabilidade constante. Tem algumas coisas que me ajudam a encontrar o equilíbrio, como tricotar, que aprendi com a minha mãe. Mas, isso também me faz pensar muito nela, então fico calma quando estou tricotando mas ao mesmo tempo triste por lembrar da minha mãe, e também feliz por ela ter sido uma mulher tão forte e generosa.




Os fios desse novelo me fazem lembrar histórias, que não são fáceis de contar. Histórias que vivi há muito tempo, e por muito pouco, mas que me contaram a vida toda. São as histórias das mulheres da minha vida. Esse enrolar de fios me lembram da minha mãe, e em como ela contava das suas lembranças, enrolada por um fio que queimava, ela e um pedaço da sua vida que perdeu pra sempre. 

Minha vizinha de cela, 
não tenha medo da dor, 
mais vale ser um defunto, 
que estar vivo e ser traidor. 

Eu também tava lá. E ela encontrou o fio que nos unia, e nele teceu a coragem e a vida, não se permitiu ser destruída. As memórias vão com o tempo, se desfazem. Mas tem algumas que não encontram consolo, apenas algum alívio: são as pequenas brechas da poesia. As mulheres da minha vida me envolveram com muitos fios, que foram tecendo na minha frente. E eu, deslumbrada com o movimento e a força de cada uma delas. A tortura abriu um buraco nelas, mas iam encontrando coragens, ideias, novas histórias, que iam costurando dentro de si. O fio de uma passava por outra, que passava por outra, deixando forte e resistente a costura de cada uma e a que unia todas elas.    




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