terça-feira, 21 de junho de 2016

Entrevista com Maria da Terra

Repórter: Quem você é de verdade?

Maria da Terra: Eu sou a Maria da Terra, uma mãe de quatro filhos, sem marido, que vive na terra e pra terra. Tenho meu espirito forte e sigo ele. Não sou santa, já errei muito, mas errei tentando acertar. Tenho orgulho de tudo o que fiz. Na lida da vida percebi que eu sou como qualquer um, homem ou mulher, tanto faz, eu sou humana. Na minha doença encontrei força pra seguir em frente, ergui a cabeça e continuei, ainda continuo.

Repórter: “O que você espera da vida?”

Maria da Terra: Eu espero um pouco mais de mansidão. Daquele tempinho que sempre me faltou na frente do caderno. Espero ver meu filhos, os quatro, até aquele que já sei foi, e meus netos vivendo bem, não quero que eles abandonem a terra, mas também não quero que eles deixem de lado os cadernos. Hoje eu sei que tem tempo pra tudo. A vida é nossa amiga, ela corre, não para, é feito água do riacho que passa no meu quintal, se a gente ficar esperto todo dia tem um cisquinho novo, diferente, que a gente pode aproveitar.

Repórter:“Quem são seus homens?”

Maria da Terra: Essa é uma pergunta difícil, de homem eu já tive meu único marido, mas que depois da morte do nosso filho sumiu pelo mundo e nunca mais voltou. Tive meu filho, meu menino que já se foi, ainda criança teve uma doença braba, ele descansou. Até hoje rezo e fico conversando com ele, é um tempinho pela manhã e outro tempinho antes de dormir. Duas vezes no dia! Esse sim foi, porque tinha que ir! Tem meus netos que adoram pescar lambari pra gente comer na janta, os meus vizinhos que vem me ajudar a cortar lenha pro fogãozinho de casa. É acho que esses são meus homens, ah tem os meninos de longe que às vezes chegam pra eu benze!

Repórter: “Quem são seus filhos?”

Maria da Terra: Tenho o João, a Therezinha, a Benedita e a Maria Inês, quatro filhos que ganhei de presente, a Therezinha e a Benedita já são casadas e tem filho, todas as duas tão bem, de vez em quando vem posar aqui em casa, dai a gente consegue colocar a conversa em dia. A Maria Inês está aqui comigo ainda, vai pra escola todo o dia, gosto tanto quando ela me pede a benção pra ir pra escola. Hoje ela tá cursando pra ser professora. Vê se pode minha filha professora, ela chega em casa eu fico espiando as tarefa dela, acho tão bonito. Ela já me falou que nessas férias que ela vai pegar, não vai deixar eu sai de casa antes de eu aprender a ler! O Joãozinho eu já contei a historia dele, aprendi tanto sobre a vida com esse menino. Eu também acho que as plantas são minhas filhas, não é querer me achar não, mas é que elas sempre tão aqui do meu lado e me conhecem tão bem, eu vou conhecendo elas todos os dias também, podo quando precisa, rego, colho, faço muda pra ela não desaparece, é por isso só que acho que elas são minhas filhas.

Repórter: “Como será a sua vida no futuro?”

Maria da Terra:  Ah eu não sei dizer não. Espero que seja boa. Quero ficar rodeada pela minha família assim como fico rodeada pelas minhas plantas. Quero continuar sentindo o cheiro da terra, colhendo e plantando. Ah quero poder ler o que tô escrevendo nos bordados, nas costuras, até quem sabe parar um pouquinho pra lê um dos livros da Maria Inês? Pensa no futuro é bom, porque a gente pode inventar as coisas, como no sonho.

Repórter: “Por que você vive?”


Maria da Terra: Eu vivo porque Deus ainda me deixou aqui, e se ele me deixou aqui é porque eu ainda tenho que aprender alguma coisa. Também vivo pelos meus filhos, não sei se eles precisam tanto de mim, mas eu preciso ter certeza que eles tão indo pelo caminho bom da vida.


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